Museu da Química organiza exposição que conta a história do curso na Rural

O Museu da Química está realizando a exposição “57 anos do curso de Química na UFRRJ: ciência, história e militância”, no Museu Casa do Reitor. A história de mais de meio século do curso, que inclui os atos de resistência dos servidores durante a ditadura militar, é narrada por meio de documentos, fotos e equipamentos científicos do acervo.

A mostra iniciou na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) deste ano. Durante o evento, a equipe do Museu recebeu alunos de diversas escolas dos arredores do campus. A visitação é gratuita e continua aberta ao público até o dia 20 de novembro.

A história

A origem do Departamento de Química está relacionada à criação do curso de pós-graduação em Química Orgânica na universidade. Em março de 1966, o docente Fausto Aita Gai e o então reitor da instituição, Paulo Dacorso Filho, acolheram o professor Otto Richard Gottlieb, que havia sido demitido da Universidade de Brasília pelas forças de repressão durante a ditadura militar. A partir de então, o curso foi criado no campus de Seropédica, vinculado ao Instituto de Ciências Exatas.

O curso de graduação em Química foi criado dois anos depois, em 1968, na modalidade de licenciatura. Em 1994, o formato industrial da área foi acrescentado ao currículo, com a intenção de melhorar a qualidade de vida da população da Baixada Fluminense e Zona Oeste do Rio.

O Departamento de Química continuou ativo até 2017, quando uma deliberação pública criou o Instituto de Química com os departamentos de Química Analítica, Química Orgânica, Bioquímica e Química Fundamental.

Luta política

A resistência contra a ditadura militar não ficou restrita à criação do departamento do curso. O episódio mais emblemático ficou conhecido como “caso Walter Motta Ferreira”.

Tudo começou no dia 20 de setembro de 1979, quando o estudante George Ricardo Abdala morreu vítima de um atropelamento perto do campus, na rodovia Rio-São Paulo. O fato levou à mobilização dos alunos por mais segurança nos arredores da universidade. O professor que deu nome ao caso, Walter Motta, resolveu atuar junto aos discentes na reivindicação e acabou demitido.

O desligamento causou indignação na comunidade universitária: os estudantes organizaram uma greve e os professores retiveram a entrega dos conceitos dos alunos, o que dificultou as colações de grau previstas. Mas, dessa vez, a recém-criada Associação dos Docentes da Universidade Rural (Adur) também estava em defesa dos servidores.

Diante dos atos do sindicato, 83 docentes – destes, 20 só do Departamento de Química – foram intimados a depor no DOPS, serviço de repressão da ditadura. Entre eles, o professor Silas Varella, que visitou a exposição do Museu da Química.

Depois de extensas negociações, já em meados do ano seguinte, houve o arquivamento do inquérito policial contra os docentes. Mesmo assim, todos os servidores indiciados perderam os cargos de chefia e foram suspensos por 15 dias.

Professor Silas Varella, um dos docentes intimidados a depor no DOPS

Nota: após a preparação do acervo para a SNCT, foram encontrados documentos que divergem sobre a data de criação do curso na universidade. Ao que tudo indica, ele tem 54 anos de trajetória – não 57, como foi afirmado até aqui.

Texto: Camille Faria (estudante de jornalismo), com informações de Andressa Esteves (coordenadora do Museu da Química)

Fotos: Joyce Rosa (estudante de jornalismo) e Andressa Esteves

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